A morte aponta-nos a Vida

Todos os Santos e Fiéis Defuntos



A morte aponta-nos a Vida

Não é um slogan… Nem sequer uma “frase espiritual” a falar da ressurreição ou de uma qualquer forma de vida “após a morte”. É bem mais concreto… A morte aponta-nos a Vida, porque dar de caras com ela de verdade faz-nos perguntar pelo sentido da Vida, pela maneira como temos construído os nossos dias e gasto as nossas energias.

Celebramos a Santidade de Deus que mergulha em si uma multidão incontável de homens e mulheres a quem devemos também aprender a chamar “Santos”, não pelo grandioso numero das suas virtudes, mas porque foram Santificados pelo Amor de Deus, foram recriados já definitivamente à Sua imagem e semelhança, re-suscitados à medida do Homem Novo, Jesus Cristo! Santos porque Santificados, TODOS! Costumamos celebrar o dia de “são este”, “santa aquela”… quase como se a santidade fosse uma conquista individual de meia dúzia de eleitos.

Hoje é dia de despertar o Coração para o Dom de Deus, para o Seu Amor que santifica, e deixar de falar do Reino de Deus como se fosse um “Paraíso para Heróis da piedade”. TODOS os Santos são TODOS os Santificados em Deus e por Deus. Celebramos o Amor de Deus, universal e inesgotável, não as virtudes particulares deste ou daquele.

No fundo, celebramos o “Dia de Páscoa, parte 2”! Porque celebrar a Ressurreição de Jesus “não chega” para celebrarmos o Mistério Pascal inteiro, o Dom da Vida do nosso Deus! Celebramos o Dia da Ressurreição de Jesus, depois celebramos o Dia de Pentecostes como acolhimento do Espírito Santo derramado para todos como princípio de Vida Nova, e culminamos com a Festa de Todos os Santos, todos os Ressuscitados como membros da Nova Humanidade inaugurada em Cristo e permanentemente renascida no Dom do Espírito do Pai.

A Festa de Todos os Santos é a plenitude da celebração pascal!

E é muito importante afinarmos o ouvido e o Coração neste dia ao Evangelho de Jesus… Para que percebamos de vez que esta Santidade que celebramos não está ligada a nenhum credo, a nenhum culto, a nenhum sacrifício devocional, a nenhuma doutrina… Esta Santidade que celebramos está ligada às Bem Aventuranças, ou seja, à adesão aos critérios do Reino de Deus, que transcende todas as religiões, raças, dogmas ou culturas!

É a Santidade de Deus a acontecer no Coração Humano de muitas maneiras diferentes que Ele consegue inspirar e amar… ainda que não coincidam com os nossos preconceitos religiosos ou culturais pelos quais medimos “bons e maus”, “santos e pecadores”, “abençoados e malditos”…

Ao celebrarmos TODOS os Santos, celebramos a grandeza do Coração de Deus! E ao fazermos isso, estamos a abrir-nos também à acção do Seu Espírito em nós para que o nosso próprio Coração se engrandeça cada vez mais, seja mais acolhedor, tolerante, ame mais e julgue menos.

O centro do anúncio de Jesus de Nazaré era o Reino de Deus, do qual dizia: “O Reino de Deus está PRÓXIMO”! E manifestava essa proximidade do Reino, esse “Deus ao alcance”, pela maneira como passava entre as pessoas que encontrava ou que o procuravam. Se acreditamos que Deus revela o Seu jeito de actuar em Jesus de Nazaré, então não podemos negar que Deus nos visitou e visita permanentemente para cuidar daqueles que ninguém cuida, para fazer festa à mesa daqueles que ninguém convida, para tocar a vida daqueles a quem ninguém ama ou perdoa.

“Deus veio ter connosco”, eis a grande BOA NOTÍCIA daqueles que com Jesus fazem a experiência do Reino! Deus veio ter connosco! O Evangelho de Jesus não é o ensinamento pelo qual aprendemos a “ir para o céu”, mas a Notícia, Boa, de que o Céu veio ter connosco! Deus vem, não para os piedosos e para os “santinhos”, mas para os pecadores e os famintos de Vida digna, livre, feliz. “Vinde a mim, todos os que andais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei”… é a promessa de Jesus.

Ao olharmos para a fronteira da morte, serenamo-nos na confiança de que Jesus não nos mente e, estando o Reino já presente como força para os que nele se aventuram, saboreamos juntos a certeza de que a Plenitude da experiência deste Reino acontece do “outro lado” do que se vê por agora… Não é “outra Vida”! É esta mesma que vivemos e construímos, mas divinamente transfigurada, renascida, curada por Deus e re-suscitada no Seu Amor de Pai…

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