Esperança e Vigilância do Cristo Total...

Domingo I do Advento (C)
1ª Leitura - Do Livro de Jeremías
«Eis que virão dias em que cumprirei a promessa favorável que fiz à casa de Israel e à casa de Judá - oráculo do Senhor. Nesses dias e nesse tempo, suscitarei de David um rebento de justiça, que praticará o direito e a equidade no país. Nesses dias, Judá será salvo e Jerusalém viverá em segurança. Este é o nome com o qual será chamada: 'Senhor - nossa justiça.'»
2ª Leitura - Da 1ª Carta aos Tessalonicenses 
O Senhor vos faça crescer e superabundar de caridade uns para com os outros e para com todos, tal como nós para convosco; que Ele confirme os vossos corações irrepreensíveis na santidade diante de Deus, nosso Pai, por ocasião da vinda de Nosso Senhor Jesus com todos os seus santos. Quanto ao resto, irmãos, pedimo-vos e exortamo-vos no Senhor Jesus Cristo, a fim de que, tendo aprendido de nós o modo como se deve caminhar e agradar a Deus - e já o fazeis - assim progridais sempre mais. Conheceis bem que preceitos vos demos da parte do Senhor Jesus.
3ª Leitura - Do Evangelho de Lucas
«Haverá sinais no Sol, na Lua e nas estrelas; e, na Terra, angústia entre os povos, aterrados com o bramido e a agitação do mar; os homens morrerão de pavor, na expectativa do que vai acontecer ao universo, pois as forças celestes serão abaladas. Então, hão-de ver o Filho do Homem vir numa nuvem com grande poder e glória. Quando estas coisas começarem a acontecer, cobrai ânimo e levantai a cabeça, porque a vossa redenção está próxima. Tende cuidado convosco: que os vossos corações não se tornem pesados com a devassidão, a embriaguez e as preocupações da vida, e que esse dia não caia sobre vós subitamente, como um laço; pois atingirá todos os que habitam a terra inteira. Velai, pois, orando continuamente, a fim de terdes força para escapar a tudo o que vai acontecer e aparecerdes firmes diante do Filho do Homem.»
 
Comentário às Leituras
Esperança e Vigilância do Cristo Total...
I. Na primeira leitura, o Profeta Jeremias reafirma a certeza na Fidelidade de Deus, num contexto muito difícil para o Povo. Acabavam de chegar a Jerusalém, regressados do cativeiro na Babilónia, e encontraram tudo destruído. O ânimo para reconstruir é pouco, e então o Profeta ergue a voz para proclamar um Hino de Restauração: “Assim diz o Senhor: neste lugar do qual dizeis que está em ruínas, sem pessoas nem rebanhos, e nas ruas que agora vedes desoladas, ainda se escutará a voz alegre e os cânticos de festa, a voz dos noivos e a cantoria dos que cantam! Neste lugar agora em ruínas, sem pessoas nem rebanhos, ainda haverá muitas ovelhas e muitos pastores!” (Jer 33, 19-13). A leitura de hoje é a continuação desta promessa: “Nesse dia, nessa hora, Eu suscitarei a David um rebento legítimo que fará a justiça e a verdade na terra [o Messias]”.
Este Hino de Restauração que Jeremias proclama ao Povo desolado é um anúncio de Esperança verdadeira, aquela que liberta o Ser Humano dos seus medos e o compromete activamente com a sua própria História.
“Esperar o dom de Deus” significa empenhar-se por ele, preparar-lhe a Vinda [Advento], assim como o Povo tinha que empenhar-se na sua própria reconstrução para que o Dom Messiânico de Deus acontecesse como realização máxima dessa Esperança. Esperar não é “aguardar”. A Esperança é a Fé em acção!
“Preparar o caminho do Senhor que vem, altear os vales e aplanar os montes”, eis a tarefa dos que Esperam! Tudo isto se faz pela defesa da Justiça e pela causa da Verdade que liberta o Ser Humano, sobretudo em favor daqueles que costumam ser despossuídos do que a todos pertence como direito. O Dom de Deus não “vem” para os que aguardam, mas “vem” permanentemente na Vida dos que Esperam.
II. É esta atitude de Esperança que o evangelho nos anuncia com imagens apocalípticas da cultura judaica do tempo e com uma linguagem muito querida por Jesus: “Vigilância”! Sim, a Esperança e a Vigilância são uma coisa só, porque se a Esperança é a Fé em acção, a Vigilância é a Fé em constante tensão e atenção!
“Vigiar”, no Novo Testamento, significa discernir os Sinais dos Tempos [a Atenção da Fé] como linguagem do Espírito que fala na História, de modo a compreendermos quais as direcções a assumir [a Tensão da Fé] na Construção do Reino de Deus [a Acção da Fé].
Sabemos já que a “espera de uma segunda vinda do Messias à História” de maneira evidente, gloriosa e justiceira surgiu no seio das esperanças judaicas que ainda marcavam as comunidades da Igreja primitiva. A maior parte dos Apóstolos não abandonaram as ideias messiânicas da Antiga Aliança e retomaram-nas depois da Ressurreição de Jesus. Como não tinha acontecido a vinda do Messias como esperavam, começaram a esperar uma “segunda vinda”, essa sim, tal como eles esperavam! Dos quatro evangelhos do Novo Testamento, só o de João [o último a ser escrito] abandonou estes “restos judaicos” no anúncio de Jesus.
Diante desta linguagem evangélica de destruição do mundo, devemos perceber isto: “Que mundo será destruído com a vinda do Messias?”
O Mundo Velho, a Velha Humanidade que reinventa constantemente o Fratricídio [Caim e Abel] e o Desentendimento [Torre de Babel]. É este Mundo Velho que, pela presença do Messias, ficará “sem sol, sem lua, sem estrelas, sem terra, sem mar e sem habitantes”! A destruição deste Mundo Velho coincide com a inauguração do Reino de Deus, o Mundo Novo que é obra do Espírito Santo a circular na Nova Humanidade renascida na Ressurreição de Jesus. Por isso, na sua estranha [para nós] linguagem apocalíptica, este anúncio da Vitória do Reino de Deus sobre o Mundo Velho compromete-nos no seguinte:
- o “Acontecimento Cristo”, que se inaugura em Jesus, e a Construção do Reino ainda não estão concluídos: pelo dom universal do Espírito Divinizante à Humanidade na Ressurreição de Jesus foi inaugurado o Reino de Deus como Projecto de uma Nova Humanidade que destrói o Mundo Velho. Jesus diz-nos: “Não tenhais medo [das forças do Mundo Velho], eu já o venci!” (Jo 16, 33). Mas a Vitória ainda não é definitiva enquanto houver um só Ser Humano a quem são negadas as possibilidades de ser ele próprio!
Jesus é a Cabeça do Corpo de Cristo. O Mistério de Cristo não é uni-pessoal, mas um Mistério universal de Comunhão Humano-Divina centrada em Jesus, “Mediador entre Deus e os Homens” (1Tim 2, 5). Jesus é o “Princípio do Cristo, a Cabeça, o Novo Adão [Ser Humano]”, mas dizer “Cristo” significa dizer a comunhão universal de Homens e Mulheres de Boa Vontade que são dóceis ao Espírito. A tarefa da Construção do Reino é tarefa do Cristo Total! Por isso é que ainda não está concluída.
- o “Acontecimento Cristo”, que se inaugura em Jesus, e a Construção do Reino não se improvisam: porque a destruição do Mundo Velho pela Vitória do Reino das Bem Aventuranças é uma tarefa do Cristo Total percebemos então verdadeiramente o lugar da Esperança e da Vigilância para que, cada cristão, cada Comunidade e a Comunhão Universal das Comunidades [Igreja] possam unir-se ao júbilo do Ressuscitado: “Venci o mundo! Vencemos o mundo! A nossa Esperança realiza permanentemente o Advento do Reino de Deus à História!”
- o “Acontecimento Cristo”, que se inaugura em Jesus, e a Construção do Reino tendem para a Plenitude da Vida: o Reino de Deus não é uma ideologia, mas sim o Horizonte Eterno da existência humana. A História Humana [pessoal e universal] caminha para o Definitivo. Este Definitivo, ou Fim da História, aparece-nos nas linguagens apocalípticas da bíblia como momento de Desastre e Alegria. Diz o evangelho de hoje: “Haverá angústia… Homens morrerão de pavor… Mas vós recobrai o ânimo e levantai a cabeça!”
O Fim da História é o “momento” do “Juízo decisivo”, ou seja, de nos darmos conta do resultado da “cadeia histórica de Juízos” [escolhas, opções e relações] em que a nossa Vida se estruturou. Será hora do Desastre de tudo aquilo que não valeu a pena [morte] e hora da Alegria por tudo o que se construiu de densidade eterna [ressurreição].
Construir o Reino de Deus é, por isso, “apontar a História Humana” para o horizonte da Ressurreição. Este é o lugar e a razão de ser da Igreja no mundo! Fazer com que não pareça uma utopia religiosa sempre que, em Comunidade, dizemos: “Ó Pai, venha a nós o Teu Reino!”
Alelu-Ya! Louvai o Senhor!
Maran’tha! Vem, Senhor!

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