Jesus é o Rei do Reino de Deus...

Domingo XXXIV do Tempo Comum (B)
1ª Leitura - Do Livro de Daniel
«Contemplando sempre a visão nocturna, vi aproximar-se, sobre as nuvens do céu, um ser semelhante a um filho de homem. Avançou até ao Ancião, diante do qual o conduziram. Foram-lhe dadas as soberanias, a glória e a realeza. Todos os povos, todas as nações e as gentes de todas as línguas o serviram. O seu império é um império eterno que não passará jamais, e o seu reino nunca será destruído.»
2ª Leitura - Do Livro do Apocalipse 
Jesus Cristo é a Testemunha fiel, o Primeiro vencedor da morte e o Soberano dos reis da terra. Àquele que nos ama e nos purificou dos nossos pecados com o seu sangue, e fez de nós um reino, sacerdotes para Deus e seu Pai; a Ele seja dada a glória e o poder pelos séculos dos séculos. Ámen! Olhai: Ele vem no meio das nuvens! Todos os olhos o verão, até mesmo os que o trespassaram. Todas as nações da terra se lamentarão por causa dele. Sim. Ámen! Eu sou o Alfa e o Ómega - diz o Senhor Deus - aquele que é, que era e que há-de vir, o Todo-Poderoso.
3ª Leitura - Do Evangelho de João
Pilatos chamou Jesus e perguntou-lhe: «Tu és rei dos judeus?» Respondeu-lhe Jesus: «Tu perguntas isso por ti mesmo, ou porque outros to disseram de mim?» Pilatos replicou: «Serei eu, porventura, judeu? A tua gente e os sumos sacerdotes é que te entregaram a mim! Que fizeste?» Jesus respondeu: «A minha realeza não é deste mundo; se a minha realeza fosse deste mundo, os meus guardas teriam lutado para que Eu não fosse entregue às autoridades judaicas; portanto, o meu reino não é de cá.» Disse-lhe Pilatos: «Logo, Tu és rei!» Respondeu-lhe Jesus: «É como dizes: Eu sou rei! Para isto nasci, para isto vim ao mundo: para dar testemunho da Verdade. Todo aquele que vive da Verdade escuta a minha voz.»
 
Comentário às Leituras
Jesus é o Rei do Reino de Deus!
I. O livro do profeta Daniel foi escrito por volta de 170 a.C., num período de grande sofrimento para o Povo de Israel, que estava subjugado pelo poder do Império Selêucida. A linguagem apocalíptica, sempre cheia de visões simbólicas e anúncios de destruição do mundo velho e opressor, é um alento de esperança para todos os esmagados.
No início do capítulo 7 o Profeta narra a visão que teve da história: do mar subiam quatro grandes feras cheias de poder e que o usavam para oprimir e destruir. Eram três feras predadoras [um com figura de leão, outro de urso e outro ainda de leopardo] e uma besta enorme, mais poderosa que as outras ainda, com dez chifres na cabeça, dentes de ferros e cascos pesadíssimos! Estas três feras predadoras e a besta fortíssima representavam simbolicamente os impérios que tinham oprimido e esmagado Israel nos séculos anteriores.
Mas eis o que o Profeta anuncia ao Povo: a meio da sua visão dramática da história, foi-lhes retirado todo o poder, foram destruídos pela presença de um “ancião sentado num trono” [símbolo de Deus]. É aqui que entra a primeira leitura de hoje: “Então, eu vi vir do céu alguém com figura humana, que foi apresentado ao Ancião. Deram-lhe todo o poder real e o domínio eterno…”
Este Novo Poder já não vem “do mar” [símbolo bíblico do mal e do caos], mas vem do céu [símbolo da morada de Deus]. Este Novo Reino não se realiza como o domínio das feras predadoras ou das bestas que esmagam tudo o que pisam com os seus cascos, mas tem traços humanos!
O Profeta Daniel anuncia a libertação do Povo de Israel como a instauração de um Reino Novo sobre a terra, não fundado na opressão mas na Sabedoria do Ancião que criou o Ser Humano “à Sua imagem e semelhança” e está empenhado na causa da sua permanente libertação para que essa “imagem e semelhança” se realize.
Esse “Reino de traços humanos” seria o Reino do Messias, aquele que “vem do céu”, ou seja, nasce no seio do seu povo como Dom de Deus, Revelador e Realizador pleno do Seu Projecto.
II. Foi em relação a este Reino de Deus ou Reino Messiânico que Jesus e as autoridades do seu tempo nunca se entenderam! Pouco a pouco, os judeus tinham começado a esperar um “messias” que instaurasse um Reino poderoso e forte como os que Daniel tinha visto desaparecer!
Para Jesus, o Reino de Deus que o Messias tinha como missão inaugurar não era uma questão de domínio político nem militar mas de Libertação do Ser Humano!
“O Reino do Messias não é deste mundo”, isto é, não obedece à lógica dos poderosos e dominadores da História; é o Reino “dos que são da Verdade e escutam a sua voz”. A Verdade é o Projecto de Deus a realizar-se no concreto de cada Ser Humano. Jesus disse aos seus discípulos, antes de eles se desiludirem com a sua morte: “Por agora ainda não entendeis muitas coisas. Mas eu enviar-vos-ei o Espírito Santo que vos dará a entender todas as coisas e vos conduzirá à Verdade completa!” (Jo 16, 12-13) “E a Verdade vos tornará Livres!” (Jo 8, 32).
O Reino de Deus é a Comunhão Universal de todos os transfigurados na Ressurreição de Jesus Cristo. Reino de Deus e Família de Deus são sinónimos. A plenitude do Reino-Família de Deus experimenta-se na face eterna da Vida. Mas os discípulos do Ressuscitado, “os que são da Verdade e escutam a sua voz” têm a missão de construir o Reino-Família de Deus na História.
A Igreja existe no mundo para que este se transforme cada vez mais em Reino de Deus! Infelizmente, às vezes parece que, como Igreja, só queremos que o mundo se transforme em Igreja…
A missão dos discípulos de Cristo é apontar a História Humana em direcção ao Sonho do Reino-Família Universal de Deus. Ser Igreja é constituir-se como Povo a Caminho do Reino de Deus enquanto o constrói historicamente com os seus próprios passos!
III. O excerto do livro do Apocalipse que lemos como segunda leitura diz-nos exactamente isso: o Reino de Deus não é uma questão simplesmente “celestial” nem é uma linguagem piedosa de um “outro mundo” que não tem nada a ver com este! “Ele [Jesus Ressuscitado] fez de nós um Reino, um Reino de Sacerdotes para Deus seu Pai”. Todos os discípulos de Cristo estão chamados a ser este Reino, e a sê-lo todos como Sacerdotes, isto é, com a missão de serem mediação do Reino de Deus, celebrando-o, construindo-o e anunciando-o.

Sem comentários: