A verdadeira Grandeza

Domingo XXV do Tempo Comum (B)
1ª Leitura - Do Livro da Sabedoria
Armemos laços ao justo porque nos incomoda, e se opõe à nossa forma de actuar. Censura-nos as transgressões da Lei, acusa-nos de sermos infiéis à nossa educação. Vejamos, pois, se as suas palavras são verdadeiras, e que lhe acontecerá no fim da vida. Porque, se o justo é filho de Deus, Deus há-de ampará-lo e tirá-lo das mãos dos seus adversários. Provemo-lo com ultrajes e torturas para avaliar da sua paciência e comprovar a sua resistência. Condenemo-lo a uma morte infame, pois, segundo ele diz, Deus o protegerá.»
2ª Leitura - Da Carta de Tiago
Pois, onde há inveja e espírito faccioso também há perturbação e todo o género de obras más. Mas a sabedoria que vem do alto é, em primeiro lugar, pura; depois, é pacífica, indulgente, dócil, cheia de misericórdia e de bons frutos, imparcial, sem hipocrisia; e é com a paz que uma colheita de justiça é semeada pelos obreiros da paz. De onde vêm as guerras e as lutas que há entre vós? Não vêm precisamente das vossas paixões que se servem dos vossos membros para fazer a guerra? Cobiçais, e nada tendes? Então, matais! Roeis-vos de inveja, e nada podeis conseguir? Então, lutais e guerreais-vos! Não tendes, porque não pedis. Pedis e não recebeis, porque pedis mal, para satisfazer os vossos prazeres.
3ª Leitura - Do Evangelho de Marcos
Partindo dali, atravessaram a Galileia, e Jesus não queria que ninguém o soubesse, porque ia instruindo os seus discípulos e dizia-lhes: «O Filho do Homem vai ser entregue nas mãos dos homens que o hão-de matar; mas, três dias depois de ser morto, ressuscitará.» Mas eles não entendiam esta linguagem e tinham receio de o interrogar. Chegaram a Cafarnaúm e, quando estavam em casa, Jesus perguntou: «Que discutíeis pelo caminho?» Ficaram em silêncio porque, no caminho, tinham discutido uns com os outros sobre qual deles era o maior. Sentando-se, chamou os Doze e disse-lhes: «Se alguém quiser ser o primeiro, há-de ser o último de todos e o servo de todos.» E, tomando um menino, colocou-o no meio deles, abraçou-o e disse-lhes: «Quem receber um destes meninos em meu nome é a mim que recebe; e quem me receber, não me recebe a mim mas àquele que me enviou.»
 
Comentário às Leituras
A verdadeira Grandeza
I. A primeira leitura, do livro da Sabedoria, foi escrita em Alexandria, uma grande cidade do Egipto antigo, a capital intelectual da altura, poucas décadas antes de Jesus. Entre os muitos judeus que lá viviam, havia os que já se tinham entregue aos costumes pagãos, e aqueles que procuravam manter-se fiéis à Aliança e à Lei do Povo de Israel com Deus. Este excerto narra-nos o conflito entre eles…
Como sempre, a Fidelidade é uma provocação! E a provocação da Fidelidade pode gerar dois tipos de consequências: a conversão ou a violência.
A Fidelidade conduz à diferença e à contra-corrente, e isto leva muitas vezes à inimizade de uns quantos.
É por perceber bem isto que Jesus disse coisas como esta: “O Reino de Deus é para os que exercem violência!” (Mt 11, 12)
Não a violência do mundo, mas a violência das Bem Aventuranças, ou seja, a violência provocadora de uma Vida “ao contrário”, com critérios que viram do avesso a maior parte das leis do mundo.
Esta é a “violência não-violenta” que os discípulos de Jesus devem exercer (a única!) para expandir o Reino das Bem Aventuranças, contra todas as instalações, cobardias, poderes desumanizantes ou desânimos do Coração.
II. Este é o núcleo central da catequese que Jesus faz aos discípulos no texto do Evangelho: o Reino de Deus não acontece segundo as lógicas do mundo que premeia os violentos, mas segundo a lógica do Espírito que inspira os fiéis!
Jesus acabara de dizer aos Apóstolos que estaria disposto a morrer pelo Evangelho da Graça se a isso o conduzissem os poderosos do seu tempo, e apanha os seus próprios discípulos em flagrante a discutir as mesmas coisas!
Jesus acabara de dizer que estava disposto a morrer, mas nunca a matar, em nome da Verdade da Boa Notícia, e nem os seus o entendiam…
“Quem será o maior?”, perguntavam-se eles…
Se, ao menos, pensassem segundo a mentalidade de Cristo…
Os grandes segundo o mundo são aqueles com os quais os outros se sentem pequenos. Os grandes segundo o mundo gostam de sentir-se grandes tratando os outros como pequenos, seja com autoridade e domínio, seja com benevolência e caridade…
Mas os grandes segundo o Espírito de Cristo são aqueles com os quais os outros se sentem engrandecidos. Os grandes segundo o Espírito de Cristo gostam de sentir todos os Homens como seus iguais e irmãos. Não são grandes porque “empequenecem” os outros, mas são verdadeiramente grandes porque engrandecem os outros!
Por isso, a verdadeira grandeza fala sempre a linguagem da ternura, da docilidade, da tolerância, da alegria, da paz, da espontaneidade, da pureza de Coração e da beleza.
Jesus escolheu o rosto de uma criança para dizer tudo isto e acrescentou que o segredo da verdadeira grandeza é a disponibilidade para servir os irmãos e acolher todos os que, como crianças, precisam de outros para serem felizes.
III. O pedaço da carta de Tiago que hoje lemos fala-nos exactamente desta Sabedoria nova que vem de Cristo e emerge em nós pela acção do Espírito Santo. As perguntas sucedem-se, e podem resumir-se a isto: Qual é a causa do mal nas nossas relações e nas nossas comunidades? É o desejo da posse e do domínio. Daqui se gera a inveja, a luta e a violência.
A lógica do Reino é a lógica da generosidade e da partilha que é o segredo da abundância para todos.
A missão dos discípulos de Cristo é formarem comunidades em que se viva este espírito fraterno e solidário em relação a todas as dimensões da Vida e da Fé.
Que pena que ainda haja tanto caminho por fazer…

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