Comunhão… Presença… Pertença…

Santíssima Trindade



Que convite este, o de hoje saborearmos juntos este “mistério” maior do Amor de Deus que é Deus ser Santíssima Trindade, ou seja, Deus ser Amor! Sim, porque falar em “Santíssima Trindade” e dizer “Deus é Amor” são sinónimos. Deus é Amor porque é Comunidade, Família. Um indivíduo nunca poderia ser amor em si próprio! Um indivíduo eterno reduzido a si próprio estaria em estado de inferno! É exactamente isso o estado de inferno: a solidão absoluta, a pessoa radicalmente reduzida a si própria, a “eterna espiral do auto-enroscamento”…


Deus é Amor porque é Trindade, Comunidade, Família. Porque o Amor é encontro, comunhão, reciprocidade, diálogo. Deus é Comunhão. Três Pessoas na perfeição de uma só Comunhão. A Divindade é uma comunhão de Pessoas, como a Humanidade é uma comunhão de pessoas. Dizer “Pessoas” significa falar de um jeito de ser que se realiza na Comunhão, na reciprocidade em que uns se dão a outros e, acolhendo-os, se acolhem a si próprios de maneira nova também.


Pela acção do Espírito Santo nos crentes da Nova Aliança, pela caminhada de convivialidade com Jesus Ressuscitado nas comunidades primitivas, pelo aprofundamento da Fé, celebração dos Mistérios e acolhimento da Palavra, os discípulos de Jesus foram sendo conduzidos à verdade maior do Amor de Deus, que é Deus ser Amor! E foram tentando sem+pré, como hoje ainda, encontrar as palavras certas para dizer estas coisas, que ultrapassam todas as palavras!


Pelo Espírito Santo, “aquele que explica todas as coisas” (Jo 16, 12-15) e configura o nosso coração com o de Cristo, entramos vitalmente no Mistério da Fé pelo qual podemos chamar a Deus-Pai nosso “Abba” (Rom 8, 14-15; Gal 4, 4-7) em perfeita comunhão e “afinação” com Deus-Filho, que lho diz eternamente, no abraço jubiloso de Deus-Espírito Santo. Por Cristo Ressuscitado tornamo-nos conhecedores da Nova Aliança, que é uma Assunção Familiar! Fomos assumidos na Família de Deus, é esta a Nova e Eterna Aliança revelada e realizada em Jesus de Nazaré, o Cristo, “seu Mediador entre Deus e os Homens”(Heb 8, 6; 9, 15; 12, 24).


E conhecemos Deus como ainda não era conhecido! Revela-se-nos o Seu rosto com uma beleza insuspeitada: Comunhão! Pouco a pouco, fomos dando nomes ao que fomos conhecendo, que é uma necessidade muito nossa. Precisamos das palavras, ainda que seja para dizer o que nelas não cabe; não vivemos sem elas. Assim, começámos a chamar “Deus-Pai” ao Amor que Jesus nos ensinou a tratar por “Abba” (Mc 14, 36; Mt 6, 9; Lc 11, 2). Começámos a chamar “Deus-Filho” ao Amor que Jesus nos revelou no seu próprio ser-fazer-dizer. E começámos a chamar “Deus-Espírito Santo” ao Amor que nos foi ajudando a entender todas estas coisas, à medida que nelas nos ia assumindo e divinizando. Sim, porque ser assumido pelo divino é ser divinizado, como ser “assumido” pelo fogo é tornar-se fogo!


Chamámos a estes “três jeitos de amar”, Pessoas, ou seja, ser em relação, não fechado em si mesmo, interioridade livre, responsável, única, original e irrepetível que se realiza na comunhão. Por isso Deus é Pessoas, na medida em que é a Comunhão Perfeita de “três jeitos” de ser em relação, de amar, de abertura ao outro, de interioridade relacional e dialogante. E porque não são pessoas em construção, mas plenas, a reciprocidade entre as três é plena e plenificante.


Plena porque é perfeita; Plenificante porque o Amor não pode fechar-se em si próprio. É sempre fecundo, criador, e não pode senão “criar à Sua imagem e semelhança” (Gn 1, 26-27). Além disso, é sempre plenificante na medida em que nos assume tal como somos, nos incorpora familiarmente na própria Comunhão de Deus e recria a nossa Vida para nos tornarmos, por Graça, o que Deus é por essência.


As crianças de um bairro muito problemático no Porto, ensinaram-me durante uma missão que a melhor maneira de falar de Deus é chamá-lo “A Família Coração”. O “Coração-Pai” é o Amor com jeito de Dom total, Graça, Iniciativa, Sonho, Projecto, Desvelo: “Sou todo para ti! Dou-te todo o Meu Amor, dou-Me todo a Ti!” O “Coração-Filho” é o Amor com jeito de Acolhimento total, Gratidão, Escuta, Obediência, Docilidade, Abertura: “Sou todo por Ti! Acolho todo o Teu Amor, recebo-Me todo de Ti!” O “Coração-Espírito Santo” é o Amor com jeito de Abraço indissolúvel, Inspiração de relação, Vínculo de encontro, Selo de Aliança, Consanguinidade familiar, Ternura Maternal: “Sou todo para todos! Acolhe o Amor, acolhe o Amor!”


Deus é a Plenitude desta Comunhão de Amor, infinitamente mais do que quaisquer palavras pudessem dizer! A Ressurreição de Jesus de Nazaré é a porta de entrada de todas estas descobertas que os discípulos de Jesus foram fazendo… Há como que um “dizer-Se” contínuo de Deus a percorrer a nossa história, um levantar o véu (revelar) “lá de Casa” que nos faz saborear antecipadamente a Plenitude de Vida que nos é prometida pelo Deus que é Comunhão… A primeir e a segunda leitura falam-nos de Deus como Presença… O evangelho fala-nos de Deus como Pertença…


Comunhão… Presença… Pertença…


Não sei porquê, sinto que estas três “palavritas” dizem mais do que parece… Deixo-vos com elas! Até à próxima semana.

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